Nunca compre um veleiro sem antes realizar a inspeção completa do casco com o barco FORA D’ÁGUA.
Por Marcelo Visintainer Lopes
Recuperar um veleiro “esteticamente” prejudicado é relativamente fácil, mas recuperar um veleiro estruturalmente prejudicado não.
Trocamos os estais e até o perfil do mastro e da retranca se a corrosão galvânica estiver muito adiantada. Trocamos as velas e reformamos o motor, pintamos o costado e o convés e renovamos o verniz do interior. Revisamos a elétrica e a hidráulica e aí vai…
Trabalhos como estes são bem comuns em barcos com 10 anos de uso, quem dirá com mais de 40 anos. Lembrando que a maior parte da nossa frota já passa dos 40 anos…
Calma. Está tudo bem!
Quase tudo se resolve com tempo, dinheiro e pessoal especializado. Até mesmo a osmose e os danos estruturais podem ser resolvidos com resultados satisfatórios.
Na minha visão (se o gasto não for problema pra você) a maior questão é o histórico de manutenções que o barco irá carregar com ele para o resto da vida.
Você teria coragem de passar o barco pra frente sem avisar o futuro comprador sobre os danos severos que foram reparados?
Uma coisa é reforçar um convés mole e a outra é reforçar um casco mole ou fraturado.
O grande vilão
A maior parte das osmoses é causada pela permeabilidade das resinas comuns que permitem que a água penetre nas camadas do laminado.
A água absorvida provoca uma pressão interna e causa o “descolamento” das estruturas que se encontravam quimicamente agregadas.
Outra parcela das osmoses (menor incidência) é causada pelas “impurezas reativas” da resina e também pelas imperfeições causadas pelo homem no processo manual de laminação.
Os catalizadores e os aceleradores de catalização são bons exemplos de impurezas – eles não fazem parte da matriz sólida e podem provocar reações químicas indesejadas.
A osmose superficial é fácil de ser tratada e não é considerada um grande problema, ainda mais quando ocorre em partes isoladas do casco.
Quando o casco está totalmente contaminado é um pouco mais trabalhoso, mas possível de ser feito. A “osmose severa” inspira maiores cuidados.
Dependendo do grau de infestação poderá ocorrer a perda de resistência mecânica do laminado, podendo avançar para o estágio de trincas e rachaduras.
O tratamento da osmose severa exige um trabalho muito mais profundo de lixa, pois se faz necessário remover as camadas “mortas” que estão descoladas e molhadas.
Todas as camadas removidas deverão ser relaminadas. Reparos desta grandeza são realizados com o barco virado (convés para baixo).
Tirando o tempo gasto para virar o barco, a gravidade facilitará todo o trabalho.
Laminar de baixo para cima (com a gravidade jogando contra) definitivamente não é o método recomendado.
No exterior é bem comum este processo, mas o que vemos por aqui é o velho “tapar de buracos” (enchendo-os com massa e depois pintando).
Como identificar a osmose antes de comprar um veleiro?
A osmose em estágios iniciais (quando as bolhas ainda não surgiram) só será identificada através de medições de umidade.
Da mesma maneira ocorre com a osmose que foi recém tratada. Depois do fundo pintado é impossível identificá-la e visualmente.
Com a utilização de ferramentas e instrumentos de medição será possível, inclusive, avaliar o grau e a extensão da contaminação.
Avaliações em paralelo (barcos de cruzeiro)
Devemos aproveitar a saída do barco para realizar os testes de dureza e de integridade estrutural do casco, principalmente no entorno da quilha.
Teste de apoio no berço da carreta, apoio sobre a quilha e aplicação de forças laterais na quilha são os principais.
Fugindo à regra
Dispensados de tirar da água estão os barcos com histórico de manutenções de fundo conhecidas e que, comprovadamente, nunca apresentaram osmose.
Este é aquele barco que você conhece desde sempre ou que algum amigo conhece muito bem e endossa a compra.
Espero ter ajudado você a “não” realizar uma compra sem antes tirar o barco da água. Se não der para tirar da água, não compre!
Bons ventos!