Por Marcelo Visintainer Lopes

Instrutor de Vela – Escola de Vela Oceano

Escola de Vela Oceano – arte Kauli Lopes

Olha aí galera!

Uma das perguntas que mais respondo é se Floripa é um bom local para morar a bordo.

Minha resposta é sempre sim, mas com algumas ressalvas.

Florianópolis é um excelente local para morar a bordo, desde que você entenda que hábitos sedentários (de fixação – antônimo de nômade) de ancoragem não combinam com a dinâmica dos ventos da região.

Não existe um local abrigado que permita que você se instale e crie raízes.

Aprender a sair do ancoradouro na hora certa é a chave para uma vida tranquila aqui na ilha da magia.

Como os ventos predominantes são do N, o ideal é que você escolha uma base com abrigo deste quadrante.

Tinguá, Armação da Piedade, Baia de São Miguel, Praia do Sambaqui e Santo Antônio de Lisboa estão entre os melhores abrigos de N.

Cada uma destas baias possui suas peculiaridades. Umas protegem mais e outras menos. Algumas protegem somente de vento e desprotegem de ondulações contrárias ao vento, enfim…

Na minha opinião a baia de Santo Antônio é a melhor opção da região. Sua geografia privilegiada amplia a proteção dos ventos do N ao SE.

O local conta com uma boa área de areia para desembarque, bares, restaurantes, supermercado, posto de combustível, farmácia, autopeças, loja de materiais elétricos e hidráulicos (não especializada em náutica), oficina de velas e capotaria, mecânicos, fibra, pintura, elétrica e diversos outros prestadores de serviço.

Conta também com o melhor prestador de serviços de mastreação de SC (Guedes), além de uma marina particular que possui poitas para locação, abastecimento de água e o vai e vem.

Com ventos de S a WNW a baia fica desabrigada e começa a receber ondas formadas pelos ventos fortes. São ondas de até 1,5m.

Situada no “mar de dentro” (dentro da baia entre a ilha e o continente), Sto. Antônio não recebe ondulações vindas de mar aberto, porém as ondas de vento são mais chatas e incomodam mais do que uma ondulação de mar aberto. São ondas curtas, picadas e desencontradas devido à baixa profundidade e à geografia de pontas recortadas.

É justamente nestas horas que a gente corre para outro canto abrigado.

Quem mora a bordo e trabalha a bordo possui a vantagem de conseguir se movimentar com boa antecedência. Trabalhar no barco também nos dá a possibilidade de agir rápido, caso entre algo meio inesperado.

As pessoas que trabalham fora do barco e que não possuem flexibilidade de horários para embarcar antes da entrada dos ventos fortes costumam passar perrengue.

Acessar o barco e trocar de ancoragem é, muitas vezes, impossível!

O cara que não consegue sair do serviço a tempo de tirar o barco dali corre o risco de ficar sem pouso para o pernoite…

Já vi gente dormindo na praia, gente procurando hotel e coisas deste tipo…

Habituar-se às constantes movimentações talvez seja a tarefa mais difícil para quem está começando.

As movimentações se fazem necessárias à medida do conforto que você deseja.

Se uma noite balançada está ok pra você, não precisa nem sair da poita, mas nada se compara a uma noite com águas mais lisas.

Se você se acostumar com as rotineiras trocas de ancoragem, com certeza irá amar viver em Floripa.

Estou tão acostumado a me movimentar que sempre encaro a mudança como um programa diferente, quase como sair para jantar.

Se Sto. Antônio é o melhor lugar para manter a base é bom lembrar que toda a baia é bem rasa.

Barcos com mais de 1,80m de calado podem passar algum trabalho por aqui.

Nas marés mais secas os barcos com calado superior a 1,8m começam a ter problemas de aproximação destes abrigos e, principalmente, se deparam com situações onde o barco fica encalhado e desaproado do quadrante principal do vento forte.

Isto dá uma dor de cabeça enorme, pois o barco não vai conseguir “navegar” na âncora.

É imprescindível que ele se mantenha boiando e aproado ao ferro o tempo todo.

Para correr de Sto. Antônio e ir para um lugar seguro e tranquilo é necessário um pouco de conhecimento da região e só a geografia não vale. É necessário olhar a previsão e identificar a direção e o período da ondulação.

Criei uma lista de ancoragens abrigadas de S a NW com até 12M de distância da Marina Santo Antônio.

São elas:

1.De SE e S, o canto da Praia Comprida na baia de Santo Antônio (divisa com o bairro Cacupé), logo em frente ao casarão branco nas pedras. Distância de 0,5M.

2.De NW, a Ponta W da Praia do Sambaqui. O local é chamado de Ponta da Ilhota. Distância 1,3M.

3. De SE a S o melhor abrigo é a beira mar norte, junto ao trapiche. Fica bem no centro da cidade e com aquela vista sensacional da Ponte Hercílio Luz. Distância de 5,0M se deixar as Ilhas Guarazes/Lazareto por BE (calado máximo de 2,0m na maré baixa) e 6,0M se deixar a Pedra Diamante por BB.

A beira mar conta com mercado, shopping center, bares, restaurantes, farmácias e postos de combustível.

4. Se virar mais de W basta cruzar para a beira mar continental. A costa é totalmente protegida deste quadrante. Distância de 1,0M da beira mar norte.

5. Também de W, mas agora saindo de Sto. Antônio de Lisboa temos as Ilhas Ratones, sendo a Ratones Grande a mais abrigada. Distância de 2,8M.

6. Também de W, toda a costa que margeia a BR 101 junto aos municípios de Biguaçu e Gov. Celso Ramos. O calado máximo não poderá ultrapassar os 2,0m. Distância de 7,0M.

7. Daniela e Jurerê. Depois que o vento sul forte já entrou com tudo o mais recomendado é arribar para um destes ancoradouros. Possuem ótimo abrigo e profundidades superiores a 3,0m.

Daniela abriga melhor de E a S e a distância é de 6,0M.

Jurerê Internacional abriga bem de S a SW, mas as ondulações contrárias ao vento podem atrapalhar um pouco aquele plano de uma noite no liso… Toda a extensão da praia é igual para a ancoragem.

Jurerê Tradicional (não Internacional) abriga de SE a SW e a distância é de 8,5M.

8. Canasvieiras e Cachoeira do Bom Jesus. Ambos possuem proteção de ventos SE a SW e estão um pouco mais a leste de Jurerê. Distância entre 10,0 e 11,0M de Sto. Antônio.

Os abrigos da Daniela até a Cachoeira do Bom Jesus desabrigam de ondulações de N, E e S com ressaca e por isto é interessante saber a direção desta ondulação para localizar o melhor abrigo. A estrutura destes locais é composta de bares, restaurantes, supermercados, farmácias, postos de combustíveis, oficinas mecânicas, loja de materiais elétricos e hidráulicos (não especializada em náutica).

A Daniela é a que possui menor estrutura de apoio em terra se comparada às demais.

9. De SE a SW, a Praia do Magalhães/Costeira, logo após a virada da Ponta do Magalhães. Situada na parte continental (Gov. Celso Ramos) o local possui montanhas com mais de 400m de altura. O único senão é a ondulação. Se estiver virada mais de N, E e até de S (com ressaca) a enseada costuma balançar bastante. Distância de 7,5M.

10. SE a NW, a Praia dos Currais também chamada de Praia do Porto. Situada dentro da Baia dos Golfinhos (Gov. Celso Ramos). Dentro da mesma baia, porém mais ao norte fica a Praia da Baia dos Golfinhos. Abriga de W a NW e fica meia milha antes da Praia do Magalhães. Ondulações de N, E e S com ressaca balançam toda a baia.  Distância de 7,0M. O local conta apenas com restaurante.

11. SW a W, a Praia Fazenda da Armação. Fica na baia ao lado da famosa Praia do Tinguá. O local é meio raso para veleiros com mais de 2,0m de calado. Calados acima de 2,5m devem ficar bem mais afastados. Distância de 9,0M. Se tiver um calado menor que 1,50m e muito boa vontade você vai encontrar um pequeno abrigo de S atrás da Ponta da Balboa. Local com padaria, bar, restaurante, farmácia, supermercado e oficina mecânica para eventuais gambiarras.

Trovoadas de verão em Floripa:

Que verão é época de trovoada todo mundo já sabe…

Se você não estiver bem amarrado na sua poita, muito bem fundeado em um bom abrigo ou até mesmo sem velas, correndo a favor da tempestade é melhor você se abrigar atrás de uma ilha.

Uma com profundidade que permita o seu contorno no caso da trovoada mudar de rumo é uma excelente opção

O norte de Floripa possui três ilhas que permitem o seu contorno: a Ilha do Francês e as duas Ilhas dos Ratones.

A melhor de todas é a dos Ratones Grande. A Ilha do Francês é meio pequena, mas ainda tem um abrigo e a Ratones Pequeno não tem boa profundidade para fazer um contorno próximo a ela (com mais de 1,50 de calado – principalmente na ponta norte).

Trovoadas de verão costumam mudar de direção em poucos minutos e é por esta razão que eu costumo me abrigar nos Ratones.

É comum a gente ficar rodando a ilha para fugir de uma trovoada. Ela oferece 360° de liberdade com abrigo para 100% das situações. O calado em toda a volta é superior a 3,0m.

Gostou das dicas?

Se desejar saber mais sobre a localização exata dos abrigos me envia uma mensagem no 48 988113123

Bons ventos!

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