escola de vela oceano florianópolis

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Por Marcelo Visintainer Lopes

Escola de Vela Oceano

Instrutor de Vela

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A construção amadora é aquela que a pessoa compra um projeto e ela mesmo o constrói – tipo faça você mesmo!

Esta prática é muito comum no exterior e no Brasil vem ganhando força com escassez de barcos.

Construir seu próprio veleiro pode ser a solução para ter o zero km, mas atenção aos detalhes e à escolha dos materiais.

Pesquise muito bem antes de se jogar de cabeça e veja o que os especialistas falam em relação aos processos.

Vou falar resumidamente de seis técnicas de construção.

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1.Sistema ply-glass.

É a técnica mais utilizada por aqui!

Chapas de compensado são fixadas em estruturas que dão forma ao casco e rigidez estrutural. Posteriormente as chapas são recobertas de fibra e resina epóxi.

Qualquer pessoa (mesmo sem habilidades manuais) conseguirá alcançar um bom resultado se executar o projeto à risca.

Executar exatamente o que diz o projeto é a parte mais difícil, pois as pessoas tendem a duvidar do dimensionamento proposto pelo Engenheiro Naval.

Isto ocorre por “excesso de zelo” e total desconhecimento sobre resistência dos materiais.

Tudo começa quando o cara resolve achar as chapas muito finas…

Depois acha que a quilha tá muito pesada e que tá muito grande…

Se você mudar qualquer coisa no projeto a chance de dar M… é gigante!!

Não velejar bem é o menor dos problemas!

Leme pesado, falta de estabilidade, manobrabilidade ruim, perda da condição auto-adriçante e por aí vai…

Comprou um projeto, siga-o sem sair uma linha para o lado!

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2.Laminação em fibra de vidro com uso de moldes de fibra.

Mais uma opção de sistema construtivo, porém nada comum.

São os estaleiros que produzem veleiros em série através de moldes em fibra.

Devido ao alto valor da sua confecção, as formas são pensadas apenas para a produção em escala.

Mesmo assim, conheço casos de pessoas que fizeram moldes para a construção de uma única unidade e é por esta razão que abri esta possibilidade.

Vai que você deseja construir formas de verdade e quem sabe produzir barcos no futuro?

A fibra de vidro é tudo de bom (tirando o impacto ambiental que ninguém fala).

Possui baixo custo de manutenção, excelente relação resistência/peso e total resistência à corrosão, o que a torna o material mais empregado na construção de veleiros.

E as desvantagens?

Vejo apenas uma que é a dificuldade de realizar manutenções em locais onde a água infiltrou no laminado.

Em um casco de madeira maciça trocamos apenas os trechos comprometidos e a vida segue.

No casco de fibra a coisa é bem mais complexa.

As camadas delaminadas devem ser totalmente removidas para depois iniciar o período de secagem da área.

A superfície deverá sofrer etapas de limpeza para então iniciar o processo de laminação com resinas de alta aderência, fibras e agregadores.

Por isto é tão importante uma avaliação criteriosa do casco fora da água antes de realizar a compra.

Buscar vazios na laminação (através do som oco) e em seguida medir a umidade do local é a maneira mais correta para identificar problemas no casco.

É por esta razão que barcos são comprados em seco e não dentro d’água.

Avaliamos mais de 15 itens que são vitais para a segurança e depois colocamos o barco de volta na água para a segunda etapa de avaliação.

Olhar o barco fora d’água serve para todos os tipos de material de construção e não só para os cascos de fibra.

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3.Fibra de vidro em placas.

A utilização de “placas monolíticas ” ou também “placas com sanduíche de espuma de PVC de célula fechada” dispensam a utilização de formas e são uma opção intermediária para quem busca leveza e rigidez.

É necessária uma base de anteparas que darão o formato do casco e ajudarão na rigidez estrutural (bem parecido com o sistema Ply-glass).

As placas são laminadas na base de anteparas e o processo todo é muito rápido de ser executado.

Este tipo de serviço é facilmente realizado por um laminador profissional.  

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Das fibras para os metais…

4.Aço carbono.

O aço é outro material muito utilizado na construção amadora, porém você precisará contratar um soldador profissional, caso você não seja um deles…

O profissional precisa dominar a técnica de construção naval de pequeno porte para não repuxar as chapas durante a solda. Do contrário elas ficarão tortas e com um aspecto terrível.

Mesmo que a solda tenha sido realizada por um excelente profissional, ainda assim o aço exigirá acabamentos com massa para esconder as imperfeições.

O casco de aço é um dos preferidos dos velejadores das altas latitudes, pois aguenta muito bem as compressões causadas pelo gelo e pode alongar entre 30 e 40% antes de romper.

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5. Alumínio.

Embora já existam estaleiros especializados aqui no Brasil, a construção em alumínio não é tão comum como a construção em aço carbono.

A primeira razão é o valor mais alto e a segunda é a exigência de mão de obra mais especializada.

Embora o alumínio seja mais leve do que o aço (aproximadamente 35% a menos) ele possui a capacidade de absorver bem quase todos os tipos de impacto, exceto os pontiagudos.

O alumínio é tudo de bom…

Se comparado à fibra, por exemplo, seu processo de construção é muito menos impactante ao meio ambiente.

Ele é reciclável, não apresenta corrosão como o aço carbono e não necessita de pintura, apenas de fundo.

Ele apresenta uma leve perda de material causada pelo arrasto da água com as partes não pintadas, mas é um processo muito lento.

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E por último…

6.O ferrocimento.

Um mix de aço e concreto!

Este processo de construção não é nada comum no Brasil, mas vou falar dele por ter conhecido pessoalmente dois primos que utilizaram esta técnica para construir seus próprios veleiros (60 pés por aí…).

A construção em ferrocimento foi muito útil lá fora até a metade dos anos de 1940, quando a indústria do aço assumiu a ponta.

Estados Unidos, Inglaterra, Holanda e Alemanha lideraram a construção de navios deste tipo.

Até o Brasil entrou na onda e construiu navios plataformas para exploração de petróleo (lá no início da perfuração em águas profundas).

A construção inicia a partir de uma modelagem feita de ferro de construção, entremeada por uma fina tela (tipo tela de galinheiro) que tem a função de sustentar a massa.

A massa é composta por cimentos e ligas especiais e é aplicada como o reboco na alvenaria.

O ferrocimento possui diversas vantagens e o baixo custo é a principal.

A construção rápida, o fácil reparo, a manutenção praticamente inexistente, a excelente resistência à água salgada e ao sol completam a lista.

As principais desvantagens são o peso (superior aos outros materiais que citei aqui) e o acabamento mais grosseiro.

Acompanhei de perto a construção de dois destes barcos.

Os primos eram meus amigos pessoais e seguidamente eu ia até lá acompanhar a evolução.

O que saiu primeiro demorou uns 15 anos para ficar pronto e o outro perto de 17 anos.

Entre cinco a dez anos é o tempo médio que uma pessoa leva para construir artesanalmente seu próprio veleiro.

No caso específico dos primos, o casco e o convés foram concluídos em pouco tempo e a demora se deu na montagem, quando os custos aumentaram muito.

Você teria coragem e perseverança para construir seu próprio veleiro?

Bons ventos!

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