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Por Marcelo Visintainer Lopes – Instrutor de Vela e Consultor Náutico

 

Este foi o tema do workshop realizado pela Escola de Vela Oceano no Vela Show Itajaí em abril de 2019.

Falamos dos principais itens a serem avaliados antes da compra de um veleiro e também dos diferentes tipos de materiais utilizados na construção.

Quando as pessoas buscam o tão sonhado “PRIMEIRO VELEIRO” elas ainda não sabem o que avaliar e como avaliar.

Ainda não conhecem profissionais especialistas para ajudar na avaliação e a visitação inicial acaba sendo feita mais pela estética, do que pelas características estruturais em si.

Problemas na estrutura, corrosão galvânica, mecânica, funcionamento dos equipamentos eletrônicos e estado das velas, se não observados com profundidade, poderão representar um custo extra que
pode representar facilmente mais da metade do valor do barco.

Depois de realizada a compra não há mais o que fazer a não ser assimilar o prejuízo.

Começar a pesquisar

Sem compromisso. É só pesquisa virtual!

Descubra quais as são as marcas consagradas e confiáveis dentro da sua possibilidade de investimento.

Tente sempre alcançar uma faixa acima daquela que o seu dinheiro alcança.

Por exemplo:
se você tem 100 mil busque barcos da faixa de 120 mil que são maiores e
provavelmente mais novos (não obrigatoriamente).

Antes de apresentar uma contra proposta avalie o barco e caso tenha interesse pergunte ao proprietário se uma proposta pode ser feita

Tem gente que se avilta com propostas muito abaixo do que estão pedindo, mas a maioria acaba aceitando.

Descubra também quais são as marcas que não devem fazer parte da sua lista de busca.

Para isto converse com um especialista no assunto e de preferência que não esteja
envolvido com venda de embarcações.

Até pouco tempo atrás só era possível encontrar um barco usado nos sites dos corretores (brokers).

A função do broker é ajudar o vendedor a se desfazer do seu bem e ao mesmo tempo orientar o comprador para uma boa compra.

Eles cuidam do contrato e da verificação dos documentos do barco e das negativas do vendedor, tudo para que o negócio saia perfeito para ambas as partes.

É bom ressaltar que quem paga a comissão é o vendedor e o negócio não custa mais caro por causa disso.

Agora já é possível negociar direto com o proprietário, sem interlocutores. A desvantagem é que você assume 100% das responsabilidades.

Não haverá ninguém o aconselhando sobre as qualidades e defeitos do veleiro e tão pouco sobre os desdobramentos documentais.

É possível encontrar anúncios pulverizados por toda a rede, principalmente nos sites de venda como Mercado Livre, OLX, entre outros.

Maneiras de comprar um veleiro

A primeira é comprar um veleiro sozinho e arcar com 100% das despesas. Desde o imobilizado até as despesas mensais.

A outra maneira é arrumar um sócio e dividir pela metade todas estas despesas.

A terceira é comprar uma cota na modalidade time sharing?

Você adquire o direito de utilizar o barco x vezes no ano e divide todas as despesas pelo número de cotistas.

Normalmente existe um administrador que cuida de tudo e você nem chega a conhecer os demais cotistas.

Sugestão de busca por faixa de preço

Se você definiu a faixa dos 50 mil como a prioritária (veleiros de 23’ a 25’ pés) é bom entender que a busca deve acompanhar barcos entre 30 e 70 mil. Como assim?

É que talvez o de 30 mil atenda suas necessidades e esteja mais inteiro do que barcos de 50 mil que estão em péssimo
estado.

Na faixa acima (70 mil) que corresponderia a um barco maior e talvez melhor, não é incomum o aceite de ofertas mais abaixo e talvez os seus 50 mil alcance (ou um pouco mais).

É aconselhável que você tenha mais planos em mente.

O que eu quero dizer com isto é que se o seu dinheiro não alcança o barco dos sonhos talvez alcance outros barcos menores e que também poderão fazer você feliz.

Podemos adquirir pequenos veleiros cabinados com lugar para o pernoite de quatro pessoas a partir de 15 mil reais.

Daí em diante a faixa pode variar até a casa dos milhões.

Começar a visitar

Se você não conhece nenhum especialista que possa fazer uma avaliação técnica a dica é olhar mesmo assim.

Marque com o proprietário e vá ver de perto.

Mas olhar o quê, se não conheço nada de veleiros?

Olhar vários barcos te ajuda a estabelecer um padrão:

Você conseguirá distinguir entre um barco visualmente inteiro e um barco caindo aos pedaços.

Mexa em tudo.

Peça para o proprietário abrir as velas, perceba a cor branca de uma vela semi nova e perceba a cor amarelada de uma vela bem surrada. Toque no tecido e sinta a textura firme e bastante resinada de uma vela em boas condições.

Levante os paineiros (assoalho) e paióis e veja se o barco é seco.

Perceba marcas internas de infiltração (anteparas, vigias, gaiutas, forração, etc.).

Abra tudo e veja o cuidado do proprietário e o estado geral do barco.

Peça para ligar o motor, rádio vhf, bombas de porão, bomba pressurizadora e os todos os instrumentos.

Atenção especial ao convés. Caminhe sem sapato e perceba pés de galinha no gel e a dureza do laminado.

Sanduiches de compensado e de madeira balsa eram muito usados no passado. Estes materiais se deterioram facilmente com a menor infiltração, causando “ocos” no laminado… 

Anote tudo!

Marque com outro proprietário e repita a operação.

Lá pelo quinto barco você terá como dizer se um barco está melhor conservado em relação ao outro.

Pesquise sobre marcas confiáveis e que não apresentem problemas recorrentes e assim você não perderá tempo.

Um profissional de avaliação

Se algum veleiro em especial conseguiu tocar o coração do casal, o ideal é investir na avaliação de um especialista.

Ele avaliará tudo o que necessita reparo, inclusive apontando os custos.

No exterior é comum os proprietários baixarem o valor do barco em função da inspeção feita por ele (Surveyor).

No Brasil este serviço profissional não é utilizado oficialmente, embora exista um
razoável número de pessoas capazes de realizar uma boa inspeção.

A inspeção completa

Uma inspeção completa analisa desde o ponto mais alto do mastro até a sua base buscando pontos de corrosão galvânica e verificando o estado do estaiamento, terminais, esticadores e adriças passando pelas ferragens e cabos, velas, casco, motor, capotaria, elétrica, hidráulica e instrumentos. 

O casco é verificado somente fora d’água.

Ouvindo o som das batidas de um martelo especial e usando a experiência de ouvido podemos descobrir qualquer vazio na laminação.  

Medir a umidade do casco ajuda a definir o estado de saturação do laminado e também ajuda a tirar a dúvida sobre pontos suspeitos de osmose.

A consequência da absorção de água é a diminuição da resistência mecânica e o
risco de delaminação da fibra (descolamento de camadas).

No caso de ter que chamar profissionais avulsos

  • motor: mecânico de confiança
  • casco, leme e quilha: laminador, montador ou pintor com experiência
    comprovada
  • mastreação: especialista em mastreação
  • velas: o mesmo especialista em mastreação ou um velejador mais experiente

Devemos velejar antes da compra?

A velejada antes da compra só será validada se for acompanhada de um especialista e de preferência em um dia com muito vento e mar agitado.

Somente nestas condições aparecerão defeitos que poderão vistos, ouvidos e sentidos.

Do contrário será só um passeio de barco com risco de compra causado pela emoção.

Posso comprar um veleiro que está na água?

Preferencialmente não!

Só será possível comprar um barco na água se você é amigo do proprietário e conhece todo o histórico de tratamento do casco.

Marcas e modelos consagrados diminuem o risco de osmose, mas não o afastam
completamente.

Por outro lado de nada adianta determinado estaleiro não apresentar histórico de osmose se o proprietário nunca deu a menor atenção para a manutenção da tinta de
fundo.

Que tipo de avaliação é feita fora d’água?

  • Osmose (ainda não reparada)
  • Estado da pintura de fundo
  • Folga no eixo do leme
  • Folga nas ferragens do leme (leme externo)
  • Anôdos de sacrifício
  • Estado geral da quilha e leme e alinhamento quilha/leme
  • Acabamento superior da quilha
  • Dureza do casco
  • Percentual de umidade absorvida pelo casco
  • Sensores de instrumentos
  • Hélice
  • Eixo e pé de galinha
  • Rabeta
  • Flanges e tomadas de refrigeração do motor
  • Batidas e deformações
  • Rachaduras e pés de galinha na fibra

Quando colocar o barco na água?

Só no caso de haver interesse real na compra.

Daí serão avaliados motor, vazamentos, instrumentos, rigidez etc.

O que esperar de um barco novo?

  • Rigidez estrutural de casco
  • Mastreação bem dimensionada
  • Velas de dacron importado e feitas em velerias renomadas
  • Motor de marca confiável 
  • Instalação elétrica bem executada
  • Hidráulica bem executada
  • Livre de osmose

O que esperar de um barco usado?

  • Rigidez do casco (quando apoiado em um berço)
  • Rigidez do casco (velejando nas ondas)
  • Mastreação/estaiamento revisados
  • Tecido das velas em bom estado
  • Velas pouco cedidas (ainda não apresentam grandes barrigas de deformação)
  • Motor bem dimensionado, em perfeito estado de conservação e com revisões
    em dia
  • Instalação elétrica revisada
  • Hidráulica revisada
  • Livre de osmose ou quase…
  • Velocidade média acima de 5 nós
  • Boa manobrabilidade
  • Teor aceitável de umidade no casco
  • Não ter sido um barco de competição (de calendário)
  • Interior seco
  • Instrumentos modernos (os antigos foram substituídos)
  • Gel conservado
  • Com pouca ou nenhuma folga no leme

Cabos, verniz, tinta de fundo, estofamentos e baterias são fáceis de trocar e
relativamente baratos se comparados aos demais itens.

Monocasco ou Catamarã?

Que tipo de casco deverei escolher?

Esta questão é muito pessoal e está basicamente ligada ao espaço, ao conforto e à segurança.

As esposas normalmente preferem os catamarãs e os maridos os monocascos.

Já os filhos e os PETS preferem os catamarãs por causa do espaço.

Um monocasco apresenta várias vantagens como um custo menor para adquirir, manter e guardar, orça mais (faz um ângulo menor contra o vento), é auto adriçante (pode virar, mas desvira sozinho) e possui uma rigidez estrutural por ter que aguentar o peso da quilha e as deformações longitudinais.

Como desvantagens apresenta um maior calado e com isto possui restrições de aproximação das praias e todos os acessos mais rasos de mangues, rios, passagens de pedra e coral.

Além disto o espaço de convívio é menor, se comparado ao catamarã, apresenta
adernação lateral quando veleja contra o vento e o balanço e cabeceio a favor
do vento.

Já o Catamarã apresenta o espaço ampliado e o conforto como principais vantagens.

Seu baixo calado permite que ele chegue em locais onde só caiaques costumam chegar.

Seus dois motores (normalmente) conferem mais segurança e autonomia e a
sua estabilidade lateral permite que a maioria das coisas fique parada no mesmo
lugar sem rolar de um lado para o outro.

As principais desvantagens são o custo mais elevado para adquirir, manter e guardar, o fato de não orçar tão bem quanto um monocasco e o fato de não ser auto adriçante (vira e fica virado).

Outro aspecto importante para se ressaltar como desvantagem é o barulho
de demolição causado pelas ondas quando passam por baixo do salão.

Os catamarãs estão cada vez mais acima d’água justamente por esta razão.

Onde guardar o veleiro?

Esta pergunta deve ser respondida antes das buscas evoluírem muito.

A emoção da compra já faz você dar alguns lances (fazer propostas)?

Calma!

Primeiro precisamos definir onde você vai deixar o veleiro.

Muita gente compra o veleiro e depois descobre que não existe local próximo para guardá-lo em segurança.

Se você pensa em guardá-lo no quintal de casa é aconselhável que seja um barco pequeno e leve para ser rebocado por um carro ou camionete.

Com certeza não será o caso de um veleiro pesado e com quilha fixa.

Se houver uma marina na região a coisa fica mais fácil!

Perguntas pertinentes ao local de guarda

  • É só uma poita em frente à praia (sem nenhuma estrutura)?
  • Qual o valor mensal?
  • É clube de vela? Qual o valor da joia, da mensalidade e da vaga para o
    barco?
  • O local possui estrutura para receber minha família e amigos (banheiros, churrasqueira etc.)?
  • É poita ou trapiche?
  • Possui serviço leva e traz 24 horas?
  • É protegido da ação do vento e das ondas?

Últimas dicas

De nada adianta “idealizar” um tamanho de barco e ficar anos e anos esperando…

Esperar por um ou dois anos é razoável…

Qualquer barco poderá atender o seu desejo de velejar, mas poucos atenderão “o ideal” de espaço e conforto.

É melhor comprar qualquer barco pequeno e começar a velejar do que ficar anos e anos sonhando.

Na próxima postagem falaremos sobre a nossa planilha de avaliação de
veleiros.

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