Em princípio, uma iniciativa que parecia que não
enfrentaria maiores obstáculos acabou se alongando mais do que se esperava: o
novo trecho do catamarã, ligando a zona Sul de Porto Alegre ao Centro da
Capital e à cidade de Guaíba. Apesar de o píer para receber a embarcação já ter
sido construído nas proximidades do BarraShoppingSul, a empresa CatSul aguarda
a liberação dos órgãos governamentais para começar a operação que,
inicialmente, estava prevista para o primeiro semestre deste ano.
Um fator que torna mais complexo esse processo é o
número de pastas envolvidas na situação. Como se trata de transporte municipal
(entre o Centro da Capital e a zona Sul) e metropolitano (até Guaíba), abrange
a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e a Fundação Estadual de
Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan). E, como ainda inclui
operação de uma embarcação pelo Guaíba, atinge também a Marinha e a
Superintendência de Portos e Hidrovias (SPH).
O capitão-de-fragata da Marinha Carlos Henrique de
Lima Zampieri informa que, no caso da futura hidrovia, o Levantamento
Hidrográfico realizado encontra-se em análise no Centro de Hidrografia da
Marinha (CHM). Zampieri acrescenta que o projeto para estabelecimento dos
necessários auxílios à navegação ainda não foi recebido para análise. Na
quarta-feira, o capitão-de-fragata reuniu-se com o diretor-superintendente da
Metroplan, Oscar Escher, para discutir aspectos relacionados à segurança do
tráfego aquaviário.
Escher ressalta que a Marinha somente aceitará a
regularização do canal de acesso ao píer se for feita uma batimetria multifeixe
- sistema de leitura do canal que gera uma nuvem de pontos para se ter uma
visão tridimensional do fundo do lago. No entanto, essa tecnologia não está
disponível no Rio Grande do Sul. Escher afirma que a Metroplan assumirá a
execução de uma nova batimetria e da sinalização adequada. O dirigente estima o
investimento na ação, que será terceirizada, em até R$ 200 mil. A meta é de que
em agosto seja concluído o processo de contrataçãoe em setembro faça-se o
serviço.
O superintendente da SPH, Pedro Obelar, comenta que
a Marinha alterou, recentemente, as regras de como os levantamentos
hidrográficos devem ser feitos. Está vigorando a Normam 25 - Normas da
Autoridade Marítima para Levantamentos Hidrográficos. Na quarta-feira, o
dirigente estava justamente no Rio de Janeiro, participando de um encontro com
a Marinha, para discutir as questões técnicas dos levantamentos hidrográficos e
quando se exige a batimetria multifeixe ou a monofeixe. O oceanógrafo da MAG -
Mar, Ambiente e Geologia Serviços Gustavo Ortiz detalha que a multifeixe
trata-se de um método acústico e é como se fosse uma projeção de um cone para o
leito do mar ou rio para obter o recolhimento de dados. Ortiz acrescenta que as
atuais cartas náuticas da Marinha são feitas através do sistema multifeixes.
Transporte poderia
ser iniciado rapidamente
Tão logo seja dada a liberação pelos órgãos
competentes, a operação no BarraShoppingSul pode começar quase que
imediatamente, diz o diretor de Operações da CatSul, Carlos Bernaud. O
empresário crê que o novo trecho será uma realidade ainda neste ano.
Antes disso, até o final de agosto, deve entrar em
operação o terceiro catamarã na linha atual: Porto Alegre-Guaíba. Essa
embarcação terá uma capacidade superior a das atuais, com 145 lugares. Em um
primeiro momento, não deve ocorrer mudança na frequência das viagens, porém a
empresa está se preparando para o aumento de demanda. Situações como as obras
de ampliação da CMPC Celulose Riograndense devem contribuir para isso. Os
catamarãs que fazem hoje a ligação entre os dois municípios têm capacidade para
transportar 120 passageiros sentados. As embarcações podem completar os 14,5
quilômetros entre as hidroviárias de Guaíba e Porto Alegre em cerca de 20
minutos. O transporte pela hidrovia iniciou em outubro de 2011 e em março deste
ano o passageiro de número 1 milhão fez a travessia. Esperava-se que o trecho
do BarraShoppingSul começasse a ser percorrido em abril. Na época, projetava-se
que o transporte urbano (entre o Centro de Porto Alegre e a zona Sul) custaria
R$ 5,00, e o preço do metropolitano (Capital - Guaíba), seja do Centro ou do
shopping, seria R$ 7,25.
Além da Marinha, SPH e Metroplan está inserida na
questão a EPTC. Contudo, o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari,
prefere não conceder entrevistas sobre o assunto no momento. De acordo com a
assessoria de imprensa da empresa, a EPTC está acertando com os órgãos
envolvidos os últimos detalhes para a implantação da linha até o shopping, mas
não há data prevista para concretizar a iniciativa.